Poucos dias atrás, uma canção me levou a pensar sobre um tipo de relacionamento com Deus que alguns, erroneamente, entendem como intimidade. “Meu melhor amigo” é o título da composição interpretada por duas conhecidas cantoras evangélicas. Mesmo pretendendo ser uma exaltação a Jesus, a letra me incomodou pelo uso até mesmo exagerado do pronome possessivo “meu” – inclusive, refere-se a Jesus como “Meu Emanuel, Deus comigo”!
Será que a intimidade com Deus me leva a excluir as demais pessoas, a ponto de eu poder dizer a Cristo: “Eu não preciso de mais ninguém; se tenho a ti, está tudo bem”? Acredito que esse discurso é um terrível engano. Jesus quer ser o meu amado, o fundamento de todo o meu afeto e minha ternura, mas se recusa a querer ser a única pessoa amada por mim. Aliás, um dos grandes milagres que Cristo promove, quando se torna Senhor de um ser humano é levá-lo a uma vida de comunhão com seus iguais; tirá-lo do ostracismo, da autossuficiência.
Creio num Deus que me trata de uma forma particular, que valoriza minha individualidade e trabalha para que eu encontre nele minha identidade; mas não creio que ele queira alimentar meu egocentrismo e me confinar a um mundinho no qual não caiba ninguém mais. O que muitos chamam de amor possessivo – que, por sinal, nem é amor – não combina em nada com a pessoa de Jesus.
Por ser o Deus da doação, ele se ofertou e também me fez uma dádiva sua às pessoas. Por isso, quanto mais íntima dele sou, mais humana me torno, porque passo a me identificar com meu semelhante, e, consequentemente, passo a me aproximar mais dos outros (1 Jo 1.6-7). Emanuel é sempre Deus conosco; nunca apenas comigo. Ele é Deus de afeto e respeito entre pessoas; é Deus de comunidade de gente que se ama.
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