Em entrevista, pastor da IAP fala sobre o Espírito Santo e racismo

Por Juliana Simioni - www.guiame.com.br

Pastor, formado em advocacia desde 1987, Hermes Pereira de Brito é vice-presidente da Igreja Adventista da Promessa.

Em entrevista exclusiva ao Guia-me, Hermes fala sobre as diferentes formas de ação do Espírito Santo, preconceito na Igreja e cotas raciais. "O preconceito é uma situação cultural, não tem como fugir", diz ele.

Guia-me: Em sua ministração, na 45ª Assembleia Geral da Igreja Adventista da Promessa, o senhor abordou o batismo no Espírito Santo. Por que algumas pessoas, mesmo crendo e buscando esse batismo, não o recebem?

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    Hermes Pereira: Segundo a Palavra de Deus, o Espírito Santo é também uma forma de revestimento que Deus nos dá, é uma capacitação. Ele é soberano. Ele é Deus e não existe uma fórmula humana para responder uma pergunta como essa. O que é certo é que Ele dirige e guia todos nós e pode batizar como, quando e quem Ele quiser. O fato de não alcançar o batismo no Espírito Santo e falar em línguas não significa que a pessoa esteja em pecado, seja desmerecida por Deus.

    Guia-me: Cada Igreja tem seu estilo de liturgia, louvor e adoração. O senhor acredita que o Espírito Santo se adapte a cada Igreja?

    Hermes Pereira: Deus se manifesta de formas diferentes, então procura ser didático para as pessoas entenderem a Ele. Quanto a maior ou menor manifestação do poder de Deus no ajuntamento do povo dEle, eu acredito, olhando para a Luz da Palavra de Deus, que isso esteja associado a uma questão de santificação. A santificação é um processo na vida de todo cristão. Em um ajuntamento de diversos cristãos nós temos uma igreja, e essa igreja, em conseqüência da postura de cada um, pode alcançar um grau de santificação um pouco maior que outra. Então, pode ser um indicador em relação ao processo de santificação um pouco mais adiantado nessa igreja, na qual se perceba maior manifestação desse poder. Agora, na manifestação soberana de Deus, não necessariamente um dos dons carismáticos possa representar a presença Dele com maior intensidade em uma determinada igreja ou região, nós podemos ter Deus agindo na proteção do seu povo em uma cidade perigosa, por exemplo, uma cidade aonde há balas perdidas o tempo todo e o seu povo é poupado. A Bíblia diz que aqueles que confiam em Deus são protegidos em um esconderijo que é Dele, e nem mesmo as setas que voam ao meio dia podem alcançá-los. Somos livres e libertos até mesmo sem perceber e isso é uma manifestação poderosa do Espírito Santo de Deus. Às vezes nós mensuramos pela manifestação de dons carismáticos, mas não necessariamente. Deus nos mostra em Sua Palavra que até mesmo a administração é um dom do Espírito Santo.

    Guia-me: O senhor já sofreu algum preconceito na Igreja?

    Hermes Pereira: O preconceito existe sim. É uma situação cultural, não tem como fugir. Existem pessoas que, inclusive por falta de conhecimento da Palavra de Deus, chegam a atribuir um sinal que Deus deu a um pecador lá de Gênesis, quando acontece o primeiro homicídio registrado na Bíblia, à pigmentação da pele, a ser negro, mas isso é uma crença mistificada. O que eu considero importante é saber que existe o preconceito. Ser diferente sempre nos impõe privilégios, em algumas situações, ou alguns constrangimentos. Penso que mais importante é entender que o evangelho nos faz iguais. Mesmo sendo negro eu não posso me esconder nisso para tentar me prevalecer. Existe uma passagem na Bíblia que me deixa muito curioso, ela fala que Naamã era chefe do Rei do exército da Síria e termina com um adjetivo, diz: 'Porém, leproso', e isso me leva a crer que é um ensinamento para todo aquele que se acha preterido por uma questão de segregação. Em minha interpretação, Naamã se fazia de forte e prevalecia sobre seus liderados, mas diante de qualquer situação adversa ele pedia para terem dó dele por ser leproso. Deus criou a todos como quis, um é alto, outro é baixo, um é negro, outro claro, um tem olhos puxados, outro não, mas Glória a Deus, foi Ele quem nos fez e ninguém pode se esconder na sua condição. Nós somos todos iguais, isso que é importante.

    Guia-me: Então, o preconceito também existe dentro da Igreja e está longe de ser tirado de lá?

    Hermes Pereira: Na carta de Paulo aos Efésios, ele diz que Deus envia pessoas diferentes querendo aperfeiçoamento dos santos. É Ele quem dá dons e coloca pessoas diferentes em nosso meio para que o corpo de Cristo seja edificado, então ele conclui que é importante nos empenharmos nisso até que todos cheguemos ao pleno conhecimento de Cristo Jesus. Você vai encontrar gente na igreja que já tem o entendimento espiritual para saber que ele é igual a todos, mas vai encontrar gente que chegou hoje, ontem, ou alguém que está na igreja há muitos anos mas ainda não entrou no processo de santificação, ou parou no meio do caminho. Pior que quando para o processo de santificação a pessoa não fica no lugar, ela regride, e são essas pessoas que irão apontar dedos, arrumar confusão, criar partidos, alegar privilégios por cor, raça, sexo. Existem questões até hoje, do tipo: 'mulher não pode pregar', é uma descriminação, e quem faz isso são pessoas por quem Jesus morreu, mas ainda precisam entender a força do evangelho que nos faz iguais.

    Guia-me: O senhor hoje ocupa um cargo importante na igreja e chegou onde está sem precisar de sistema de cotas. Acredita que sistema de cotas, para entrar onde quer que for, faculdade, emprego etc, é um tipo de discriminação?

    Hermes Pereira: Entendo que sim e acho que é uma coisa muito séria, pois está se criando no Brasil um fortalecimento que vai para esse raciocínio, que me parece retrógrado. Hoje nós abrimos oportunidades para que negros tenham acesso à faculdade. Daqui a pouco precisaremos forçar as empresas a abrir espaço para que eles trabalhem, e lá na frente teremos discussões do tipo: 'você só está aqui porque eu cedi minha vaga', e a gente não precisa disso. Penso também que exista um problema muito grande de autoestima do negro, então porque é negro não quer estudar, não quer 'pegar no batente' para valer. Lógico que isso não é uma regra, mas muita gente se esconde e descansa nisso. Todos nós temos que levantar muito cedo, trabalhar, matar um leão ao dia, é necessidade, ninguém pode descansar em sua necessidade social, sua cor ou sua raça, todos precisam fazer sua parte. As pessoas precisam entender e essa é uma conseqüência do evangelho também, que cada um tem que viver de acordo com o que pode. Nossa sociedade é absolutamente consumista, secularizada, e muitos dos próprios cristãos querem ter coisas, mas nós não precisamos ter, precisamos ser diante de Deus, que é muito mais importante. Penso que esse sistema de cotas esteja criando no Brasil um fosso que vai dividir ainda mais e abrir portas para outros problemas sérios, mas o poder público está interessado nisso, ele não se preocupa em nos fazer iguais, é melhor dar 51 reais de bolsa-família do que educar e fazer um planejamento familiar.

    Fonte: Guia-me. Vi no PC Amaral

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