Culto de cura, de libertação, de vitória, de prosperidade, dos empresários… estamos cultuando a Deus ou a nós mesmos?

Basta passar em frente a uma igreja evangélica e logo vê-se a faixa: “Grande culto da vitória”, “Culto de cura e libertação”, “Culto das causas impossíveis”, “Culto dos empresários”, “Grande campanha da prosperidade financeira”. Mas isso é bíblico?

Em primeiro lugar, vamos situar o que é culto, e para quem deve ser feito. A palavra culto vem do latim cultus, que significa cuidado, cultivo, adoração, reverência, segundo o site Origem da Palavra. Em tese, podemos adorar ou reverenciar pessoas e divindades. Porém, como cristãos, devemos prestar culto apenas a Deus.

Mas aí vamos à igreja prestar culto a Deus, em tese. Só que vamos na “terça-feira da prosperidade financeira”, pois estamos passando por um momento difícil e, nesse dia específico, será feita uma “oração forte” para ajudar os endividados a mudarem de vida.

Sinceramente: estamos indo a esse culto para adorar a Deus ou para tentar resolver nosso problema?

Cultuar, adorar, prevê se humilhar diante de Deus. Prevê demonstrar que nada podemos sem Ele. Prevê afirmar que, não importa o que Ele permita que aconteça em nossa vida, ainda assim O reconhecemos como Soberano Senhor e Salvador de nossas vidas. Então, por que misturamos isso com nossos desejos pessoais?

Veja bem, creio que é lícito orar a Deus e pedir por tudo aquilo que precisamos. Esse é um ponto. Porém, quando nomeamos um culto de “noite da libertação” tiramos a centralidade do culto na adoração a Deus, para coloca-la na busca por libertação dos fiéis. É uma coisa sutil, mas é.

E por que as igrejas passaram a fazer essas “campanhas” específicas nos dias de culto ao Senhor?

Estratégia para fidelizar a clientela. Se uma igreja tem apenas “culto”, atrai poucos fiéis. Mas, se tem a “sexta-feira forte da cura das doenças”, aí serão muitos fiéis, ávidos por aquilo que é prometido: no caso, cura. São fiéis não buscando a Deus pelo que Ele é, mas pelo que Ele pode fazer em nosso favor.

Mas é esse o culto que Deus espera de nós?

Veja o que Jesus nos ensinou:

“Por isso vos digo: Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não tendes vós muito mais valor do que elas? E qual de vós poderá, com todos os seus cuidados, acrescentar um côvado à sua estatura? E, quanto ao vestuário, por que andais solícitos? Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos vestirá muito mais a vós, homens de pouca fé? Não andeis, pois, inquietos, dizendo: Que comeremos, ou que beberemos, ou com que nos vestiremos? Porque todas estas coisas os gentios procuram. Decerto vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas; Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal.” –  Mateus 6:25-34

Deus sabe das nossas necessidades, e Ele ouve nossas orações em secreto. Assim, Ele, como Pai Amoroso, está pronto para nos prover naquilo que precisamos, se essa for Sua vontade. Não é preciso, para isso, que façamos um culto de vitória, para buscar vitória nos nossos empreendimentos, ou campanha dos empresários (por que ninguém faz a campanha dos auxiliares gerais?), para cativar quem pode dar melhores dízimos e ofertas, ou culto de cura, afinal vemos nos Evangelhos que as curas aconteciam sem sequer a necessidade de um culto específico.

A grande verdade é que um líder gospel com visão negocial e de marketing descobriu que dar qualidades ou características místico-poderosas às reuniões de culto aumentaria a plateia. Afinal, cá para nós, entre assistir ao culto com o pastor fulano, que faz milagres extraordinários, e assistir a um culto comum, sem um nome chamativo que o torne especial, em qual culto a maioria de nós iria?

Com o tempo, muitas igrejas passaram a imitar esse método, considerado por muitos como algo vindo de Deus. Mas Deus quer que O cultuemos por amor, temor e tremor, ou por interesse pessoal?

“Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outrem não darei, nem o meu louvor às imagens de escultura.” – Isaías 42:8

Sim, muitos de nós – eu, inclusive – nos aproximamos de Deus por conta da busca de satisfação de algum interesse (saúde, finanças, família, etc). Porém, à medida em que caminhamos com Cristo, Ele nos faz perceber que devemos amar a Deus primeiramente e independentemente de qualquer coisa que Ele venha ou não a fazer por nós. Uma igreja que vive de cultos específicos para os fiéis e campanhas intermináveis não permite que seus membros cresçam e aprendam essa lição, estagnando-os ao estado inicial da fé, aquele em que, por desconhecimento de Deus, ainda O buscamos apenas por interesse pessoal.

Em outras palavras: quem vive de culto de campanha vive cultuando para si mesmo.

O amadurecimento espiritual está em buscar a Deus pelo que Ele é. E o amadurecimento espiritual do líder cristão está em deixar de depender de seus próprios métodos humanos, de marketing, para buscar a adesão de novos fiéis. Afinal,

“E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos.E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” – Atos 2:42-47

Igreja cheia não é e nunca foi sinônimo de multidão de cristãos verdadeiros. Infelizmente, muitas igrejas estão cheias de cristãos puramente nominais, que frequentam o lugar porque ali lhes é apresentado um evangelho agradável ao mundo, no qual Deus é um mordomo a nosso serviço, que é obrigado a nos dar o que pedimos se fizermos direitinho o que o líder religioso mandar. E, entre as ordens, está a de frequentar os cultos de campanha e trazer bons dízimos e ofertas alçadas em cada um deles (com a desculpa de que não se pode aproximar do altar de mãos vazias – já ouvi muuuuito isso!!!).

Se for da vontade de Deus, você será curado(a), provido(a), terá seu lar restaurado, independente de participar de algum culto específico para tal. Deus olha o seu coração, não a faixa na frente da igreja para agir na sua vida.

“E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; Porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” – Lucas 11:9-13

Voltemos ao Evangelho puro e simples,

O $how tem que parar!

Fonte: Vera Siqueira em Uma Estrangeira no Mundo

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