Deus amou o mundo

image A palavra “mundo” na Bíblia tem pelo menos três significados. Pode representar o “mundo natureza criada”, como no Salmo 24.1: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam”. Também se refere ao mundo como sistema de valores anti-reino de Deus, como em 1 João 2.15: “não amem o mundo nem o que no mundo há”. Mas, principalmente, mundo é uma referências a pessoas, ou mesmo à humanidade, como em João 3.16: “Deus amou o mundo”.

Quando se refere às pessoas, o Evangelho de João, por exemplo, deixa claro que são pessoas em oposição a Deus. Não receberam Jesus em sua divindade (1.10), não reconheceram sua messianidade (1.11) e rejeitaram sua obra (1.12). A palavra “mundo”, portanto, se refere às pessoas que estão em rebelião contra Deus e alienadas de Deus (8.23,24) e que, portanto, têm como fonte de vida (morte) o Diabo (8.41-44). Por estas razões, nutrem um ódio não apenas contra Deus como também contra tudo quanto lhe diz respeito, principalmente aqueles que reconhecem Jesus em sua divindade e messianidade e a ele se submetem em amor (15.18-25).

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    Na Bíblia Sagrada, a expressão “mundo” não aponta para pessoas amáveis, ou que naturalmente despertam nossa compaixão e cativam nossa solidariedade. Inclui a criança abusada, a vítima de um ato de violência e injustiça e alguém que sofre em virtude da estupidez de um terceiro. Mas também inclui o abusador pedófilo, o corrupto que se locupleta às custas da miséria alheia e o motorista alcoolizado que atropelou e matou três pedestres. O amor de Deus abraça todos aqueles que teríamos razões suficientes para odiar. Pessoas inescrupulosas, que nos ferem, usurpam nossos direitos, nos submetem ao sofrimento em virtude de sua maldade, egoísmo e indiferença a tudo quanto é sagrado.

    Erroneamente acreditamos que essas pessoas ocupam apenas as páginas dos jornais, transbordando sua malignidade do alto dos morros e na periferia pobre de nossas cidades. Mais facilmente classificamos como “pessoas odiáveis” o político mau caráter, o terrorista fanático, o soldado do crime organizado e o bandido que usa farda e trai a honradez dos homens que integram nossas forças policiais. Mas no caso de Jesus as pessoas chamadas “mundo” estavam bem ao seu lado: eram os líderes de sua religião, seus amigos mais íntimos, seus homens de confiança e, especialmente, muitas que foram abençoadas por ele. Anás e Caifás, Judas, Pedro e todos quantos gritaram Barrabás. Não eram pessoas distantes. A maioria, inclusive, partilhava de sua mesa, seu afeto, sua compaixão e seu serviço amoroso.

    Amar o mundo, portanto, é um desafio sobre humano. Exige abrir mão do desejo de vingança e da retaliação; recusar pagar o mal com o mal; guardar o coração do ódio, da mágoa e do ressentimento. Amar implica servir e abençoar os não amáveis: alimentar o inimigo faminto, dar de beber ao que nos odeia e tratar as feridas de quem nos quer mal. Esses todos, de quando em vez, nos chegam de longe. Mas, de fato, geralmente transitam em nossos círculos mais próximos: a família, a comunhão de amigos e a comunidade chamada igreja.

    Não foi sem razão que até mesmo para Deus amar custou e custa caro: Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu Filho Unigênito. Amar custou para Deus dizer não a si mesmo para que pudesse dizer sim ao mundo que amou: Jesus não se apegou às suas prerrogativas e direitos divinos, “mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens, e achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz”.

    Por Ed René Kivitz, Igreja Batista da Água Branca - SP

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