Incrédulo sim, mas corajoso!

imageEu quero ver para crer”. Para quase todo cristão, esta frase é sinônimo de Tomé, o mais conhecido incrédulo da Bíblia.  João demonstra um interesse especial por ele, que “não é destacado em nenhum outro lugar onde os apóstolos são citados.”

A primeira referência que João faz a ele está no capítulo 11: Então Tomé, chamado Dídimo, disse aos outros discípulos: Vamos nós também para morrer com ele (v. 16).Talvez essa seja uma declaração de natureza pessimista, que assinala os primeiros traços do perfil de Tomé: Perito em imaginar o pior. Seja como for, essa declaração também eleva nossa estimativa a seu respeito; ele era um discípulo de grande coragem. Desde aqui, essa qualidade dele fica bem clara.

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    Agora, o momento decisivo para Tomé encontra-se em João 20. Os discípulos estavam todos trancados. “Atrás de portas bem fechadas eles encolhem-se de medo dos líderes judeus.” Mas de repente, de uma hora pra outra, o quadro muda: ... chegou Jesus, pôs se no meio deles e lhes disse: Paz seja convosco! (v. 19). Quando Jesus disse isso, vendo e reconhecendo-o, a esperança dos discípulos é devolvida. Com a certeza da ressurreição, renasce a confiança daqueles homens. Houve comemoração naquela sala, Jesus estava vivo!

    Mas havia um que não estava no meio deles quando isso aconteceu; um que perdeu a festa de chegada do Senhor Jesus. A Bíblia mostra que Tomé, não estava presente quando Jesus veio para aquele primeiro encontro com os discípulos (Jo. 20:24). Todos estavam reunidos, como é costume dos enlutados. Faziam apenas três dias que o Senhor falecera. Não se recomenda solidão para ninguém. O que se precisa em horas difíceis é ânimo. Tomé, porém, tinha se apartado, perdeu o milagre em primeira mão. Ao invés de ficar com os outros, Tomé buscou abrigo e consolo no isolamento.

    Quando os outros discípulos lhe contaram sobre o que havia acontecido, Tomé, duvidou: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei (Jo. 20:25b). Em outras palavras ele estava dizendo: “Eu não acredito em vocês!” Tomé não se impressionou. Ele não se deixou persuadir, “ele sabia do que a imaginação era capaz (...) ilusões óticas não eram desconhecidas”, por isso queria provas palpáveis.

    Tomé foi sincero, teve coragem de confessar sua fraqueza, sua falta de fé. Ele não escondeu de ninguém o que estava se passando. É muito bom sentar no banco da igreja e fingir que está tudo bem. Tomé não estava disposto a fingir crer em algo que não cria. Como poderia se alegrar exteriormente ao falar da ressurreição, se no seu interior duvidava. Apesar de tudo isso Tomé foi persistente, mesmo não tendo acreditado no testemunho dos discípulos, ficou no meio deles; ele buscava respostas.

    Tomé foi sim chamado de incrédulo por Jesus, mas não poderia, em hipótese alguma, ser chamado de covarde. Ele foi um homem corajoso. É interessante notarmos que não foi só ele quem duvidou. Quando as mulheres disseram para os discípulos que Jesus havia ressuscitado, eles não conseguiram acreditar (Mc 16:11). Quando os discípulos que iam a caminho de Emaús, tiveram um encontro com Cristo, e voltaram para informar sobre este acontecimento aos outros discípulos, eles não creram (Mc 16:13). Por fim, quando Jesus aparece aos discípulos, alguns ficaram em dúvida (Mt 28:17). Não foi só Tomé, mas “alguns”. Jesus repreende a falta de fé e a dureza do coração dos discípulos (Mc 16:14). Todos duvidaram. Todos só creram quando viram. Na verdade o exemplo negativo da história são os outros discípulos e não Tomé. Ele foi corajoso e sincero.

    E quanto a mim e a você? Será que temos esta mesma coragem para confessar as nossas fraquezas? A nossa falta de fé? Qual foi a última vez que você colocou para fora suas dúvidas, angustias e sofrimentos. Não guarde com você, é pior! Abra o seu coração para o Senhor. Sofrer calado, na maioria das vezes, não é a melhor saída. Seja transparente diante de Deus e dos seus irmãos. Não podemos afogar as nossas dúvidas, os nossos dilemas, as nossas angustias, os nossos pesares. A mudança começa quando corajosamente reconhecemos: “Eu preciso de ajuda”.

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